Introdução
A criação e o emprego de unidades de operações especiais no meio policial são recentes, remontando à década de 1960. O principal objetivo do uso desses grupos é o Estado oferecer, à sociedade, uma resposta apropriada e com níveis adequados de segurança contra as práticas criminosas mais severas e violentas, que exigem utilização de recursos diferenciados e especializados, sejam humanos, tecnológicos ou materiais, principalmente nos casos em que há incapacidade ou insuficiência de reação por parte das unidades convencionais ou dos meios normais de contenção. Os grupos de operações especiais são equipes autônomas de alto desempenho, preparadas e responsáveis para dar a última resposta em eventos de crise e cenários de grande incerteza, podendo atuar de forma independente ou em cooperação com outras forças. Todas as ações devem ser pautadas pela obediência ao ordenamento jurídico vigente, atendendo a princípios como proporcionalidade e adequabilidade.
Os grupos especiais, quando disponíveis, treinados e munidos com equipamentos adequados, são os grandes responsáveis pela preservação de vidas, não apenas das vítimas das ações criminosas, como também dos próprios perpetradores, quando se rendem e, principalmente, dos policiais que não dispõem de recursos técnicos diferenciados e são expostos, muitas vezes, a situações de extremo risco de morte. Vários casos de perdas de policiais ocorreram e ocorrem pelo mundo, inclusive na Polícia Federal. Esses tristes acontecimentos, talvez, fossem evitados com o emprego dos meios adequados nos momentos cruciais. Outra questão a ser ponderada diz respeito à sua capacidade de dissuasão de atos delitivos mais violentos, só em razão de sua existência, quando executados por pessoas equilibradas mentalmente. Por isso é imperiosa a necessidade de investimentos na criação e manutenção desses grupos, que devem ter capacidade plena de atuação e pronto emprego.
Nesse contexto, ainda mais recente, algumas unidades estão se especializando, através de sólida formação técnica e doutrinária, no combate aos crimes que são perpetrados no ambiente aquático e em áreas adjacentes, tão abundantes no Brasil. São milhares de quilômetros de costas e rios, muitos situados em regiões de fronteira, formando um verdadeiro oásis para o cometimento das mais variadas práticas criminosas como: terrorismo, tráfico de drogas e armas, contrabando, pirataria marítima/fluvial e crimes ambientais.
Em razão desses fatores, um esforço vem sendo desenvolvido para a constituição de unidades vocacionadas no combate aos diversos crimes cometidos nesse meio tão específico. Chamam-se, essas forças policiais especiais, unidades ou grupos de operações anfíbias.
Essas unidades contam com policiais multimissão altamente treinados, capazes de atuar nos mais variados meios (aquático, terrestre e aéreo) e desempenhar, com sucesso, uma diversidade extraordinária de operações. Possuem, da mesma forma, recursos diferenciados para a execução dessas atividades especiais como equipamentos, armamentos e embarcações.
No desenvolvimento deste livro, procurou-se abordar o tema sob distintas perspectivas, trazendo informações relevantes tanto para operadores de segurança como para pessoas interessadas ou curiosas no assunto. Debruçou-se, ainda, sobre a operacionalidade anfíbia na Polícia Federal, discorrendo acerca da realidade presente e dos anseios quanto à evolução dessas atividades dentro da instituição. Seu conteúdo pode servir, adicionalmente, como inspiração ou orientação para forças policiais interessadas em implementar unidades com capacidade anfíbia em suas circunscrições.
Oscar Alfa aborda, através de textos e imagens, o emprego de operadores anfíbios no meio militar e policial; a formação das unidades policiais e de seus operadores, com descrição detalhada dos cursos de operações anfíbias e as dificuldades enfrentadas durante esse processo; a utilização dessa especialidade dentro da Polícia Federal, seus grupos e capacidades, rotinas e responsabilidades; os treinamentos complementares e continuados; a diversidade dos equipamentos envolvidos na atividade, como armamentos, veículos, embarcações, equipamentos e tecnologias empregadas; a estrutura e instalações necessárias para o funcionamento das unidades e as técnicas empregadas por esses grupos diferenciados.
O livro, ainda, conta com um capítulo específico sobre a história das operações anfíbias e atividades subaquáticas, uma espécie de linha do tempo ricamente ilustrada sobre a evolução das práticas e dos equipamentos, relatando a jornada do homem rumo ao fundo do mar, um dos ambientes mais agressivo e desconhecido para o ser humano.
Complementando o tema, esta obra faz uma narrativa do desencadeamento de seis operações realizadas pela Polícia Federal, ocorridas em diversas regiões do País, com a utilização de operadores anfíbios. O leitor poderá, de certa forma, vivenciar a preparação, a execução e a finalização das missões, bem como as emoções, tensões e dificuldades enfrentadas pelos policiais durante a sua efetivação. Este livro é composto por histórias reais descritas por quem efetivamente participou dos fatos.
Esses relatos buscam trazer novas informações sobre o penoso e arriscado trabalho desenvolvido pelos policiais, remetendo o leitor à dura realidade enfrentada em suas rotinas. A natureza, especialmente no meio aquático, proporciona severas condições ambientais aos operadores anfíbios, como tempestades ou elevada insolação, temperaturas muito baixas ou altas demais, fortes correntes marítimas, ventos e mar revolto, o que exige um elevado grau de coragem, rusticidade e resiliência dos envolvidos. Essas dificuldades, somadas ao estresse natural advindo do enfrentamento aos criminosos, causam um enorme desgaste físico e mental aos que se submetem a essa atividade. Não são raros os casos de hipotermia, pneumonia e outros problemas respiratórios, lesões em articulações, insolação, queimaduras de pele, desidratação e problemas gástricos entre os integrantes desses grupos especiais.
Para finalizar, incluíram-se entrevistas realizadas pelo autor com dois policiais federais precursores em seus grupos, COT e NEPOM, que relataram, com riqueza de detalhes, algumas de suas participações em operações importantes durante sua carreira, além das primeiras experiências vividas nessas unidades.
Embora a obra apresente relevantes informações sobre as atividades policiais, houve uma constante preocupação na omissão de conhecimentos mais específicos ou sensíveis, capazes de beneficiar ou contribuir para o sucesso de futuras ações criminosas ou, ainda, atrapalhar a atuação das forças de segurança.
Tome fôlego e prossiga rumo ao mundo das Operações Anfíbias. Força e Honra!