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Apresentação

Bem-vindo, leitor, ao fascinante mundo das operações especiais policiais. Certamente, o tema não lhe soará como novo, uma vez que já foi trazido ao conhecimento do grande público. Fora tornado mais popular, ainda mais recentemente, pela via da grande tela. Entretanto, a presente obra lhe propõe uma nova e fascinante jornada por um caminho pouco trilhado dentro do universo das operações especiais: levar o braço da lei, através da atuação das unidades especiais anfíbias, a lugares em que a água substitui o terreno firme, onde será forjado o personagem principal desta obra, o operador anfíbio. Aventure-se conosco.

Oscar Alfa possui rico conteúdo técnico voltado ao público especializado e é pautada no esmero em apresentar informações que vão muito além da abordagem genérica ou superficial. Também se destina, contudo, ao cidadão civil, ávido por conhecimento e aventura, que nutre simpatia, admiração ou mesmo curiosidade pelo trabalho policial e, particularmente, por aquelas atividades afeitas à área de operações especiais.

O leitor vai percebendo, ao longo da narrativa, a empreitada desafiadora que é estender a atuação policial mar adentro, exercendo tal atividade em um cenário inusitado. O realismo da narrativa o levará a entender, numa primeira etapa, o emprego das forças policiais no meio marítimo e fluvial. A partir disso, vivenciará a realidade do operador anfíbio e compreenderá os motivos que tornam necessária a existência de grupos especiais, também, nessa área de policiamento. Poderá comprovar que a atividade exige preparo para atuar em cenários de grande rusticidade, em especial, ao se deparar com situações ocorridas em condições difíceis, principalmente, na costa da Região Sul do País ou mesmo em mar aberto. Assim, tal policial será exigido em operações envolvendo abordagem em todos os tipos de embarcações, nos mais perturbadores cenários, em operações de salvamento e resgate de náufragos ou, ainda, em acidentes em instalações marítimas ou portuárias. Em cada missão, o operador é testado no limite de suas capacidades técnica, física e psicológica.

Seguir à noite, em frente e mar adentro, por muitas milhas a bordo de uma lancha de interceptação, exposto à chuva e sob frio intenso, mantendo a mente em estado de alerta constante a despeito do cansaço, ainda que o estômago não resista à força brutal da natureza. Eis um horizonte hostil, que desafia o mais bravo dos homens a vencer o medo e seguir adiante. Enfrentar o medo sim, mas jamais desafiar a força da natureza. Quem já operou em missões de combate sob severas condições climáticas, baixa luminosidade e mar revolto sabe que o operador anfíbio precisa ser um audaz por definição, mas deve pautar sua atuação baseada no conhecimento e no preparo técnico. Dessa forma, tal virtude só é útil quando acompanhada da disciplina consciente. Portanto, o operador anfíbio é um profissional qualificado que sabe da importância do planejamento detalhado, do conhecimento técnico e prático para operar os sistemas, armamentos e equipamentos embarcados. Com sua característica multidisciplinar, sabe ainda interpretar a previsão de tempo, avisos meteorológicos e cartas náuticas. Nesse contexto, o conhecimento das variantes do cenário onde atua é condição essencial para o bom cumprimento das missões de forma segura.

Os entusiastas do mergulho serão brindados com um capítulo especialmente dedicado ao tema, tendo em vista tratar-se de atividade extremamente importante no conjunto das operações especiais anfíbias. Estudioso do assunto, com sólidos conhecimentos e experiência prática sobre atividades subaquáticas, o autor aborda aspectos técnicos e históricos da atividade sob um prisma, até então, pouco explorado.

Esta obra, também, inova ao abordar todo aparato de equipamentos, tecnologias e instalações utilizados por grupamentos anfíbios, citando referências e especificações técnicas e analisando sua aplicabilidade. Tal conteúdo é de grande utilidade pois, certamente, servirá como referência e fonte de consulta para aqueles que desejam aparelhar unidades de operações especiais com vocação anfíbia.

Embora a atuação policial, combatendo as atividades criminosas em ambiente marítimo, rios e lagos em nosso País não seja um fato novo, o leitor perceberá, ao longo da narrativa, que o autor revela uma dose de pioneirismo do diminuto Grupo do qual faz parte. Esse pioneirismo se revela na forma como são utilizados os meios operativos anfíbios, que não se esgotam na utilização das técnicas operacionais embarcadas na atividade policial.

Ao longo do tempo, a unidade fez uso de procedimentos operacionais pouco comuns nesse ramo da atividade policial, ainda que especializada. Assim, foram testadas técnicas utilizando toda sorte de equipamentos e armamentos, seja em oficinas práticas ou mesmo em missões policiais reais que demandaram a transição do operador entre os ambientes que compõem o cenário de operações anfíbias, seja embarcado ou lançado em água. Ora operando lancha de interceptação, o Grupo aborda grandes embarcações madrugada adentro em condições de chuva e mar agitado, exigindo perícia do piloto e preparo dos policiais para efetuar tal procedimento de forma segura num cenário caótico no qual, por vezes, são recebidos de forma pouco amistosa ou até mesmo hostil por parte das tripulações abordadas; ora efetuando progressão furtiva dentro de rios, portando armamento e equipamentos para efetuar abordagem em situações de elevado risco.

Com o passar do tempo, as atividades do Grupo avançaram além do trabalho de repressão aos crimes de pirataria marítima, enfrentamento do tráfico de drogas em região portuária e das patrulhas anfíbias. Estenderam-se, especialmente, a operações voltadas ao combate das diversas modalidades de crimes ambientais ocorridos no entorno da Baía da Babitonga, em Santa Catarina. Essa frente de ação então desbravada, seguindo uma tendência mundial voltada à preservação dos recursos naturais, forneceu uma inesgotável fonte de aprendizado, tendo em vista as inúmeras situações vivenciadas na prática. Sempre que havia condições, o trabalho visava a tal objetivo. Com isso, Cérberus* tornou-se o guardião da Baia e protetor de seus ilustres, mas também vulneráveis, moradores: as toninhas e os meros.

Importante registrar que a inspiração para desbravar tal universo policial provém das valorosas tropas especiais militares, especialmente aquelas com vocação anfíbia, as quais o autor faz referência uma vez que não há doutrina consolidada na área de operações policiais anfíbias no Brasil e tampouco outra unidade policial que pudesse servir de referência. Trazer tal atuação ao universo policial representa uma jornada dura e desafiadora, marcada por erros e acertos calculados, mas recompensada com a construção de bases sólidas para o desenvolvimento de uma doutrina especializada.

O resultado mais relevante desse processo, que durou anos, foi, além das operações policiais desencadeadas com êxito as quais resultaram em prisões e apreensões, a elaboração do primeiro Curso de Operações Anfíbias no âmbito da Polícia Federal, reconhecido pela Academia Nacional de Polícia. Tal curso, desenvolvido pela unidade, contou com o entusiasmo e profissionalismo do autor que dedicou seu conhecimento especializado para atingir tal objetivo. Realizaram-se diversas oficinas, aproveitando as operações policiais planejadas e executadas pela equipe. O know-how construído foi testado, inclusive, em instruções ministradas junto a grupos especiais de forças amigas, com resultados altamente satisfatórios e empolgantes. Todas as oportunidades disponíveis foram utilizadas para o desenvolvimento da doutrina. Na parte em que a rusticidade se fazia presente, os próprios membros se testaram à custa de algumas lesões, corpos açoitados pelo frio intenso e uma pneumonia. Tais experiências, pude vivenciar na pele e aprendi com o autor que, para transferir conhecimento com segurança, todos os testes devem ser realizados previamente, preferencialmente com aqueles que se propõem a ensinar. Essa sistemática é essencial para os professores terem segurança e controle sobre o nível de dificuldade imposta ao aluno, durante instruções na área de operações especiais, a fim de que o curso ministrado consiga atingir os objetivos propostos com toda a segurança possível.

Para finalizar, quero abordar uma questão interessante envolvendo a decisão de desbravar uma nova área do conhecimento e diz respeito à resistência interna que, por vezes, ocorre em contraponto a uma proposta inovadora, ou à recente vertente mais operacional no leque de atuação policial. Isso acontece, principalmente, quando se propõe uma elevação do nível de preparo e exigência na área tática. No meio policial, eventualmente, deparamo-nos com reações contrárias a iniciativas pontuais de se treinar e utilizar equipamentos, uniformizar procedimentos e condutas operacionais. Talvez, por um natural comodismo em desafiar-se a avançar além de seu universo cotidiano, de sua área de conforto. Felizmente, com o passar do tempo, essa resistência vem sendo gradativamente vencida e, cada vez mais, policiais reconhecem a necessidade e a importância de incrementar a preparação física, mental e técnica, até porque, em algum momento, isso pode ser a diferença que o fará retornar vivo e com saúde para o seu lar.

Boa leitura.

“Quem ousa vence!”

Vinicius Tadeu Corrêa
Agente de Polícia Federal Classe Especial
Coordenador do Grupo Especial de Polícia Marítima – GEPOM, de Joinville/SC
Sub-coordenador do Grupo de Pronta Intervenção – GPI, de Santa Catarina

 

* Todas as embarcações recebem um nome, que fica registrado junto a Autoridade Marítima. Esse nome foi escolhido para batizar a embarcação SR-760M do GEPOM de Joinville/SC. Na Mitologia Grega, Cerberus era um cão monstruoso de múltiplas cabeças, normalmente retratado com três, que guardava a entrada do mundo inferior (inferno), o reino subterrâneo dos mortos, permitindo a entrada das almas, mas nunca sua saída.

 

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