COT1 OA FT Homenagem
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"É com satisfação que apresento o livro “Charlie Oscar Tango: por dentro do grupo de operações especiais da Polícia Federal”, de autoria dos Agentes de Polícia Federal Eduardo Maia Betini e Fabiano Tomazi, que de maneira proativa e fiel aos princípios éticos e morais que regem a atuação do Policial Federal, tiveram a sensibilidade de trazer ao público em geral um pouco da realidade do dia-a-dia dos policiais federais brasileiros, sem expor nem comprometer a compartimentação necessária ao bom desempenho da atividade de polícia judiciária da União, ao mesmo tempo em que oferecem uma leitura agradável e realista sobre o cotidiano desta Instituição Policial, que no auge dos seus 64 anos, encontra-se amadurecida para refletir sobre seu passado e, muito mais, pensar o futuro, hoje planejado estrategicamente com uma visão de tornar-se um polícia referência mundial em segurança pública.

Confesso que ao receber o honroso convite e a partir da leitura do presente livro, pude ter a oportunidade de rememorar a minha própria carreira na Polícia Federal, foram 14 anos como agente de polícia federal de operações, especializado no combate ao tráfico de drogas e, até aqui, mais 13 anos como delegado de polícia federal, também sempre atuando no combate ao tráfico de drogas e o crime organizado. O relato do livro é, certamente, uma síntese das experiências dos autores com o resgate da história do Comando de Operações Táticas - COT, que agora se projeta para o público e que, seguramente, acalenta e conforta a muitos daqueles de nós  policiais federais que fizemos e ainda fazemos parte desta história, mas que, por qualquer motivo, ainda não pudemos externá-las como forma de contribuição transformadora para a sociedade em geral.

Eis porque acredito ser atual a milenar frase atribuída ao político romano Caio Graco: "Livros não mudam o mundo, quem muda o mundo são as pessoas. Os livros só mudam as pessoas".

Séculos se passaram desde então, muitos foram e são aqueles homens e mulheres que têm reservado lugar especial na história em suas buscas pela implantação e aperfeiçoamento da democracia no mundo. Contudo, em alguns momentos deste processo de amadurecimento político, mesmo os mais ilustres e sábios tiveram seu momento de descrença. Dentre eles destaco o imortal Rui Barbosa em relação ao futuro da política brasileira, quando vaticinou, em memorável discurso no Senado Federal, em 1914: "... de tanto ver triunfar as nulidades, de tanto ver prosperar a desonra, de tanto ver crescer a injustiça, de tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus, o homem chega a desanimar da virtude, a rir-se da honra, a ter vergonha de ser honesto...".

Hoje, após quase um século daquele discurso, creio que a assertiva desoladora não se concretizou, para o bem da sociedade brasileira, em que pese tenhamos sofrido de forma recorrente com o ataque vilipendioso dos inescrupulosos, que teimam em fazer fortuna à custa do erário público por meio dos mais variados tipos de ilícitos penais e atos imorais. Por isto também oportuno o apêndice que trata da sociedade e violência, com algumas sugestões de segurança preventiva.

Tal medida reforça minha torcida e minha convicção de que se faz necessário o investimento maciço na consolidação do próprio Programa Nacional de Segurança com Cidadania – Pronasci e do Sistema Único de Segurança Pública e todas aquelas medidas sócio-educativas que são propugnadas pelo Pronasci, que conclamam a participação social, o que nos remete à nossa obrigação constitucional perante o Estado em contribuir de forma cooperativa na construção da paz social.

E nada mais oportuno do que o momento histórico que vive o país e o mundo, frente à atual crise econômico-financeira, para que a sociedade em geral possa se reafirmar e de cabeça erguida, por intermédio de seus líderes, acreditarem em um futuro melhor e poder afirmar, em alto e bom som, que a esperança vencerá o medo. Até porque este é um país que teima em dar certo!

Quanto a isto, nós, policiais federais, estaremos fazendo o possível e o impossível para que a sociedade possa continuar acreditando em si e em seus valores éticos e morais e, em conseqüência, fazendo com que o discurso de Rui Barbosa tenha sido mais um desabafo do que uma premonição.

É neste sentido que também o livro corrobora o ethos que orienta a atuação do policial federal ainda no umbral do século XXI, do qual destaco:


O quarto, e talvez o mais importante, é o compromisso que todo o grupo possui com a ética. Lembro-me de uma determinada situação onde estávamos todos em um ‘briefing’ que antecedia uma operação. Poucos meses antes, havíamos tido um confronto pesado com assaltantes de banco onde quatro bandidos foram mortos. Durante a reunião, levado pela emoção, um dos nossos comentou com o chefe:

- Eles estão cada vez mais ousados e estamos cansados de prender o mesmo caras duas, três vezes seguidas. Ou eles fogem da cadeia ou nem são condenados. Deveríamos ‘quebrar geral’ para aproveitarmos a vantagem tática sem nos expormos.

O condutor do ‘briefing’ parou um instante, pensou por segundos e replicou:


- Mas é por isso mesmo que somos protegidos, porque somos assim, não matamos sem necessidade. Tenho certeza que se um dia começarmos a matar sem a real necessidade Deus não nos protegerá mais.”


Em face disto e em razão de uma conjunção de forças do bem que o momento atual tem favorecido que se erga a mão forte do Estado, por meio de seus órgãos e instituições, dentre elas, a Polícia Federal, para que coíbam, de forma qualificada e exemplar os atos que atentem contra os interesses da União, seu patrimônio, a paz social, a saúde pública no combate ao tráfico de drogas, dentre outras competências reservadas pela Constituição Cidadã.

É neste sentido que caminhamos para nos tornarmos verdadeiramente uma polícia cidadã, conforme afirmam os autores já nas primeiras páginas do livro. O que se busca hodiernamente é que o policial federal tenha ao longo de sua carreira a capacitação permanente, para que a repressão qualificada, representada no uso progressivo da força e em tecnologias não-letais, aliada à inteligência policial torne-se a alavanca da investigação policial criminal e com isto garantam o caráter técnico-científico da ação da Polícia Federal, sempre com a preocupação constante na robustez das provas. Por isto a criação da Escola Superior de Polícia, no âmbito da Academia Nacional de Polícia Federal, é fator de grande expectativa e motivação.

É nesta ambiência que se fortalecem os princípios republicanos que norteiam a esmagadora maioria de servidores públicos em nossa democracia recém (re)inaugurada. Neste contexto a Polícia Federal tem sido vigilante não só para atuar repressivamente contra os malfeitores, repito de forma qualificada, mas, também, para sempre se orientar pela observância dos direitos e princípios fundamentais do cidadão, com ênfase no respeito à dignidade da pessoa humana.

A prova disto encontra-se nos relatos contidos no presente livro. Eis porque oportuno lembrar também do ilustre escritor Monteiro Lobato quando afirmou que “um país se faz com homens e livros”.

Na esteira deste raciocínio reputo oportuna a afirmação do professor Edson Nascimento de Carvalho* quando afirma que “o livro não é egocêntrico. O livro coopera, reparte. Divide saberes. É um registro de linguagens e idéias em transformação permanente. É um ato libertário que conduz o homem holístico e globalizado a expressar-se com dignidade e respeito.”

Por óbvio que os autores buscaram retratar a realidade de uma Unidade Especializada da Polícia Federal, o COT, que interage com todas as demais. Neste ponto urge ressaltar que grande parte das operações policiais citadas no presente livro foram idealizadas no bojo de investigações policiais criminais que se desenvolveram ora por uma Unidade Central, ora por uma Unidade Descentralizada da Polícia Federal, e em grande parte de forma coordenada e colegiada, mas, sempre com o apoio do COT, conforme descrito de forma fidedigna.

Tudo isto para reafirmar que a Polícia Federal é uma Instituição Policial republicana, composta por homens e mulheres, profissionais, abnegados, comprometidos e, necessariamente, anônimos, onde o mais importante não é saber quem cumpriu a missão, mas tão-somente ter a certeza de que esta foi concretizada por policiais federais, certamente inspirados na frase insculpida em placa de bronze que recepciona o visitante que chega ao COT: “a qualquer hora, em qualquer lugar, para qualquer missão”.

É por isto que tenho a satisfação de convidar o leitor a percorrer as histórias aqui relatadas e, quiçá, possa motivar-se a se ombrear conosco na construção de um futuro melhor para a cidadania brasileira.

Boa leitura!

Brasília – DF verão de 2009.

Luiz Fernando Corrêa
Delegado de Polícia Federal – Classe Especial
Diretor-Geral do Departamento de Polícia Federal
Ex-Secretário Nacional de Segurança Pública (2003-2008)"

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